Ilusões
As lágrimas rolam
no outro dia é sorriso
desembaraço
no outro dia é cansaço
e silêncio,
sem graça
os músculos crescem,
aos setenta é tudo menos
rugas demais.
As moças bonitas dos anos dourados, hoje senhoras respeitáveis e respeitadas
o carro, o grande maverick,
sucesso ontem,
hoje ferro velho,
por sorte salvo.
o que era osso
hoje pó, o que era pó, hoje poeira, o que era vento
mormaço e o que era sério, besteira
e tudo muda, mas a alma é a mesma, o olhar
o cheiro molhado das ondas, as cores da aurora, na hora do crepúsculo
o sorvete de creme, a alma da cidade, o sebo, o mesmo rio, o mesmo,
embora apodrecido
os mesmos nenéns nas ruas, as mesmas mães, olhando vitrines,
os mesmos lambe-lambes,
o mesmo ar.
Muita coisa muda, em poucos anos, mas o casal de namorados, na praça,
ainda
observando a natureza, no mesmo domingo, com a mesma alma, por que ela não muda.
O mesmo poeta bêbado, a mesma puta e os mesmos homens, pensando serem diferentes,
os mesmos.
Muita coisa muda, muita coisa permanece, muito é ilusão. Mas a ilusão mais bonita, o amor, fica.
Bartolomeu Dias, quatorze de fevereiro de dois mil e onze.