segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011


Ilusões

As lágrimas rolam
no outro dia é sorriso

desembaraço
no outro dia é cansaço
e silêncio,
sem graça

os músculos crescem,
aos setenta é tudo menos

rugas demais.

As moças bonitas dos anos dourados, hoje senhoras respeitáveis e respeitadas

o carro, o grande maverick,
sucesso ontem,
hoje ferro velho,

por sorte salvo.

o que era osso
hoje pó, o que era pó, hoje poeira, o que era vento
mormaço e o que era sério, besteira
e tudo muda, mas a alma é a mesma, o olhar
o cheiro molhado das ondas, as cores da aurora, na hora do crepúsculo

o sorvete de creme, a alma da cidade, o sebo, o mesmo rio, o mesmo,
embora apodrecido

os mesmos nenéns nas ruas, as mesmas mães, olhando vitrines,
os mesmos lambe-lambes,
o mesmo ar.

Muita coisa muda, em poucos anos, mas o casal de namorados, na praça,
ainda

observando a natureza, no mesmo domingo, com a mesma alma, por que ela não muda.

O mesmo poeta bêbado, a mesma puta e os mesmos homens, pensando serem diferentes,
os mesmos.

Muita coisa muda, muita coisa permanece, muito é ilusão. Mas a ilusão mais bonita, o amor, fica.



Bartolomeu Dias, quatorze de fevereiro de dois mil e onze.

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