Um dia
Ruas desertas, portas trancadas
gritos, uma chuva, passos
calçadas. A noite é um gato preto
E quando num é carnaval, é tudo assim
Tudo silêncio e só lembranças
Poucos amigos, ambíguos, umbigos demais e lambanças, nos bancos do cais
Logo cedo, nas feiras, moças com pais, pra lá e pra cá, senhoras e senhores
carros, cachorros
gritos, um sol quente, passos
calçadas quebradas, o galeto da padaria, o moleque, brincando na porta do mercado
e a mercadoria, esperando chegar em casa e pertencer, simbolicamente
a alguém, por dinheiro ou por desgraça
ou por ignorância. Mas no carnaval, o bloco das ilusões, sempre passa. Gritos, uma chuva, passos
e gargalhadas, cantorias, palhaçadas, rindo daquela vida um pouco articulada, cheia de razões
Passos, cantorias, gritos, gritarias, cantos, procissões, possessões, porcaria. Por quê?
Bartolomeu Dias, doze de fevereiro de dois mil e onze.