terça-feira, 13 de julho de 2010



Omnibus Lotadus


Era uma segunda-feira e aquele pobre=professor apressava-se para mais um dia de trabalho.
Chegando à parada teve, de cara, a sorte de dar de encontro ao ônibus - ou seria aquilo
uma réplica do apocalipse? Não é de se negar o olhar demoníaco com que o cobrador te olha às 5:30 da manhã -
seguiam todos para mais um dia na labuta, tristes por mais um meado de mês e sonhando, ou melhor: tendo agonizantes pesadelos
com a fatura do cartão.
Eis que vai um triste ou outro aqui e ali, observando a paisagem de congestionamento. Assim se chega ao esta.. opa, terminal!
Ao terminal de ônibus, não estado terminal (ainda!), mas apenas o primeiro, porque vai-se à primeira fila do dia, não diferente do habitat do primeiro ônibus do dia.
A espera é corresponde ao tempo de um café com bolachas e uma conversa sobre o jogo de ontem. Isso dá uma boa meia-hora.
Em segundos lugares amassados na porta (isso não é uma tentativa mal-sucedida de um [latim?], pois é o quadro de todos os dias. Maravilha de porta, aliás... não percamos tempo,
a hora não é a mais apropriada) e eis todos, segundo terminal, estado de calamidade e um público aterrador na fila. Até se perguntou: morreu alguém?
Ou será que o governo endoidou e pagou adiantado?? TERCEIRO ônibus. E eis o fato mais hilariante da história: vai um "irmão", cantando a Deus e ao mundo
daquele ônibus, hinos de louvor; a insatisfação nem é geral: Um ou outro entoa um "amém!", "Glória a Deus!", nos intervalos da rádio - como se chamaria?. O leitor escolhe. Acharia
mais apropriado: "Inferno na terra" ou coisa do tipo.. sobre rodas, quem sabe. O leitor fica livre para tão importante escolha - E começa a "pregação".
- Jesus, nosso senhor, disse: "Onde estiverem dois ou mais, a falar no meu nome, eu, estarei entre eles. Com certeza, irmãos, nosso senhor está aqui conosco, nesta maravilhosa manhã, neste ônibus abençoado!
Duvidei neste ponto. Naquele aperto?? Se estivesse, sofria o coitado e como sofria! E não segurei o riso. "Ônibus abençoado?" sofria aquele rapaz de algum transtorno? Teria o mundo carcomido seu pobre cérebro? Acho que bem pudera ter exagerado no vinho no dia anterior. Mas isso não vem ao caso!.. Disputei mais uma vez aquela maravilhosa porta, ao menos era puxar a corda e descer.Não, "irmãos", não é um rapel por corda para descer. Falo da corda da campainha do ônibus, dessas com as quais estamos acostumados a lhe dar todos os dias. Se bem que era necessário uma escalada para alcançar. Como o paraíso! Acho que consegui reproduzir, aproximadamente, essa parte do inferno.
Podia ser pior, bem pior!...Pensei, olhando para o fundo do ônibus. Um garoto ia com a perna torta, arriscando uma fratura exposta, um senhor fazia um outro, que ia dormindo, de colchão e assim seguia o carrosel da morte.
Em dado momento, um dos entoantes de "Glória a Deus", nas alturas da escada, é importunado por seu telefone, que toca o fantástico hino de Maraya Carey, aqueles de novela. Como, leitor, podia eu , deixar de esboçar se quer
um riso, diante de tal situação? "Dois irmãos ( Não o ônibus... Personagens bíblicos, dos quais não me recordo o nome) sofreram, meus amigos, num cubículo quente, tendendo à morte!" Olhei em volta. Pensei: "Não seria um ônibus??"
E chorava de rir, por dentro.
Participações especiais e a parada se aproxima, será que verei todo o show?
Voz de velha, julgando-se uma artista da broadway, uma distinta senhora, que não sabia eu, onde se encontrava - talvez uma voz macabra, nunca se sabe, um espírito vagante. Num ônibus tudo é possível. Um caldeirão ambulante! - eis que estava a mulher com cara de bruxa, atrás de mim,
talvez a repugnar o jeito com que eu tentava disfarçar o ralhar, pois a rádio ia pras cabeças naquele dia -. E eis que a estrela começa a cantoria, ouvíam-se muitos "muxoxos", justificados sempre, pois a voz era temí.. terrível! (temível e terrível, quem sabe uma mescla dos dois)
O "dono da rádio" pede bis e a insatisfação (agora sim) é geral, um inferno!. Só me restava aquele riso, meio escarninho, meio alienado, por estar chegando a hora de ser vomitado pela porta do meio, e chegou.
Desci, me arrumei, dei Graças aos santos pagãos e parti para mais um dia no inferno colegial.


*Moral?] da história: "melhor rir do que chorar."

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