segunda-feira, 28 de março de 2011

Poema em resposta a "E agora e depois"


Poema em resposta a "E agora e depois", de Georgia Hammine in



O tal cara de duas patas
vive de ilusões, o bípede iludido

dá nome aos bois e a tudo que encontra pelo caminho

a energia, que ninguém vê, o bípede chama de luz
se um bípede enxerga a luz, os outros o chamam
da lua

quem sabe esse universo seja só uma caixa de papelão
quem sabe o gás do leite a gente não enxergue
por que se tomamos um mínimo do leite contido na caixa
temos que minunciar os sentidos
e damos nome a tudo e não conhecemos o gás do leite
dessa via láctea

o bípede iludido, se ilude que é só aquele mecanismo
que anda sobre dois pedaços de estrutura altamente
[complexa?]

pelo menos procura compreender, o bípede, mas é fixo demais
é aprofundalóide de tudo
e dá nome e limita-se

depois vem outro bípede
desmente tudo
pq aquele bípede esqueceu
não viu

se aprofundou demais, enquanto o vento soprava
a vida ia cheia de outras e outras e outras
formas, deformações, abstrações

o bípede esqueceu-se de abstrair, sentir e abstrair
esqueceu. Então se aprofundou, enquanto as águas se moviam
com partículas de oxigênio, presente no vento

quantas formas há dentro daquelas partículas?

Quantas outras sondáveis, sentíveis outras formas, dentro das formas
dentro das partículas de oxigênio do vento e do mar?

o bípede se complexou, quando tudo se move. Parou enquanto nada para
enquanto o natural é

e pronto.




P.S.: Assim o bípede criou ilusões. Nomes. Deu nome a elas. Amor, Alegria(a mais bela
e passageira/que nem passageiro em catraca de ônibus em parada, lotado)

E as tristes ilusões: o ciúme doença, a posse de tudo que é vivo, o universo, material
a incompreensão, raiva injusta e tudo mais

Sentiu? São ilusões. Não parece tudo o mesmo? Não dá tudo a mesma boa ou triste sensação?
Ou até negativa, digamos?

O amor é dicotômico. Mas a culpa é do bípede, que deu nome aos bois. Em vez apenas de sentir


e pronto.







Bartolomeu Dias

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